Estudante vítima de racismo está sem dormir: “Três dias chorando”


“Já faz três dias que estou chorando. Não consigo parar de pensar no que ela disse. É muito doloroso ter que ficar passando por atitudes assim e nenhuma Justiça ser feita”, afirma uma estudante negra de uma escola particular de Águas Claras. A adolescente, de 15 anos, foi vítima de comentários considerados racistas no último fim de semana.

A repercussão do caso ocorreu a partir da divulgação de um vídeo, gravado nas dependências de uma escola de Águas Claras, na última segunda (23/5). As imagens circulam nas redes sociais desde terça (24/5). Nelas, é possível ver uma estudante, também de 15 anos, dizendo, em tom de deboche, que é racista e faz referência a outros comentários feitos contra a aluna negra, que é matriculada em outra escola da mesma região administrativa.

Procurado, o centro educacional que foi palco dos comentários confirmou o caso e informou ao Metrópoles que aplicou as “medidas disciplinares previstas na própria política educacional”. A reportagem vai preservar a identidade dos estudantes envolvidos no caso por eles serem menores de 18 anos.

Entenda o caso

A vítima foi acusada de falar mal de uma aluna de outra escola em um grupo privado de WhatsApp, no fim de semana ─ ela nega a versão. A partir daí, a aluna teria gravado um vídeo debochando da estudante, que é negra. Também teria dito que, caso falasse o que pensa dela , seria “presa” por injúria racial. Ainda, teria chamado a colega de “macaca”, dito que o cabelo dela era “podre” e que as tranças da garota eram “feias” e estavam “sempre do mesmo jeito”.

“Me senti humilhada, ofenderam minha etnia, me ofendeu, afetou meu psicológico”, diz a estudante após a repercussão das imagens.

No vídeo, a aluna ri, enquanto diz que o colega também é racista. Ele aparece sentado ao lado dela nas imagens e não nega a acusação. Em seguida, a garota afirma que ele é “responsável pela confusão” iniciada no fim de semana. Depois, a menina reafirma que é racista.

Em outro post, a aluna apontada por injúria racial e uma amiga dizem que a região de Taguatinga é um lugar de pobre. E que a colega não deixaria a aluna do vídeo morar com a “pobretaiada” de lá. Em outra publicação, a menina afirma que odeia todas as minorias, exceto autistas.

O outro lado

Ao Metrópoles, a adolescente, de 15 anos, nega que tenha sido racista. Segundo ela, toda a confusão aconteceu por uma intriga devido à roupa de uma delas. “Eu postei um storie no Instagram de uma roupa que eu estava usando para sair. Essa menina já tinha falado mal de mim em outras ocasiões, mas, desta vez, ela tirou um print da minha publicação, compartilhou em um grupo de WhatsApp e criticou o meu visual. Falou que eu era brega demais e parecia uma vaqueira”, detalha a adolescente que gravou o vídeo.

Segundo a aluna acusada de racismo, ela chegou a mandar mensagem para a jovem negra na tentativa esclarecer a situação. “Não era a primeira vez que ela falava de mim. Eu comentei com os meus amigos que, se ela falasse das minhas roupas, eu ia comentar das tranças dela, que eu achava malfeitas e não eram bonitas. Mas eu não fui racista. Critiquei o estilo dela, assim como ela comentou sobre o meu”, alega.

A estudante afirma que nunca foi racista de fato, e que o vídeo foi uma resposta irônica às pessoas que começaram a chamá-la de “racistinha”. “Foi um simples deboche, ironia para quem me chamou assim. Porém, começaram a propagar ódio e a história virou uma bola de neve ao ponto de inventarem que eu a chamei ela de macaca e dito que o cabelo dela era podre”, relata.

Questionada se pretende tomar alguma medida legal diante da situação a qual viveu, a adolescente que se sentiu ofendida com as ironias da colega diz que a família pretende procurar, ainda nesta semana, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) para registrar um boletim de ocorrência por injúria racial.

Procurado, o colégio informou que procurou compreender todo o caso, ouvindo os alunos envolvidos e conversando com a família sobre o ocorrido. Veja a nota:

“Esclarecemos que, ao tomar conhecimento da situação, a direção da escola se empenhou em compreender todo o caso, apurando os fatos,

ouvindo os alunos envolvidos e conversando com as famílias sobre o ocorrido.

Nesse contexto, aplicamos as medidas disciplinares previstas em nossa política e, em parceria com responsáveis pelos alunos, também estabelecemos ações empáticas, condizentes com nossos projetos que trabalham respeito e harmonia em sala de aula.

Estamos certos de que a chave para seguirmos no melhor caminho é abrir canais para diálogo e ter participação ativa das famílias na formação dos jovens cidadãos”.


FONTE: metropoles.com


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